‘Eu cri, ainda que tenha dito: "Estou muito aflito”’ (Salmos 116:10).
"Retorne ao seu descanso, ó minha alma" (Salmos 116:7a), pois perto está o Senhor Deus. ELE se inclina e escuta as minhas orações. Eu continuo crendo que a Sua graça me alcançará, tenho certeza de que eu “Erguerei o cálice da salvação” (Salmos 116:13a). Tu Senhor “livraste-me das minhas correntes” (Salmos 116:16b) e, quando estou desalentado, recordo que Deus está próximo, escutando atentamente a cada oração que Lhe faço e responde-me com Seu amor leal porque “O Senhor é misericordioso e justo” (Salmos 116:5a). Ele age para me dar o melhor, uma vez que “quando eu já estava sem forças, ele me salvou” (Salmos 116:6b).
“Ele me salvou” na
minha fraqueza. Entretanto, muitos creem que esta declaração é uma demonstração
de debilidade, uma revelação da falta de fé, pois um justo, jamais pode deixar
transparecer a sua dor. Se alguém disser "Estou muito aflito”
ou ainda quando ‘Em pânico eu disse: "Ninguém merece confiança”’
(Salmos 116:11), os fariseus do presente século dirão que esta declaração é
proveniente de uma pessoa que sequer se converteu, um herege. Entretanto, o
salmista contesta esta versão ao afirmar: “Eu cri, ainda que tenha
dito...” tal afirmação demonstra na verdade uma fé genuína e não uma
incredulidade, porque mesmo diante da aflição ele continua crendo. Sua declaração
mostra claramente que ele anda por fé, anda em amor com ELE e anda em
obediência ao Senhor “Pois tu me livraste da morte, os meus olhos, das
lágrimas e os meus pés, de tropeçar, para que eu pudesse andar diante do Senhor
na terra dos viventes” (Salmos 116:8,9).
Suas declarações não atraíram a ira do Senhor, pelo contrário, na verdade o Senhor o “livrou da morte, os olhos, das lágrimas e os meus pés, de tropeçar”. Isso nos mostra que todos aqueles que com coração sincero, externam suas aflições ao declararem sua dor em uma oração sincera, não serão de forma alguma abandonados à própria sorte. Mesmo que impensadamente venham a declarar: “Senhor, tu me enganaste, e eu fui enganado; foste mais forte do que eu e prevaleceste. Sou ridicularizado o dia inteiro; todos zombam de mim” (Jeremias 20:7); ou ainda “Maldito seja o dia em que eu nasci! Jamais seja abençoado o dia em que minha mãe me deu à luz!” (Jeremias 20:14). Certamente são palavras contundentes! Note que são proferidas por profetas de Deus. Outro exemplo vem do paciente Jó: ‘Depois disso Jó abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento, dizendo: "Pereça o dia do meu nascimento e a noite em que se disse: ‘Nasceu um menino!’ Transforme-se aquele dia em trevas, e Deus, lá do alto, não se importe com ele; não resplandeça a luz sobre ele’ (Jó 3:1-4), "Pelo Deus vivo, que me negou justiça, pelo Todo-poderoso, que deu amargura à minha alma” (Jó 27:2). Veja a semelhança angustiante nas palavra ditas por estes dois heróis da fé.
Certamente nos dias de hoje eles seriam excomungados como hereges e seus livros arrancados do cânon nos privando de tão lindas biografias, de homens que embora tementes a Deus, em um momento de pânico abriram seus corações num desabafo angustiante diante de tudo que estavam enfrentando. É maravilhoso ver que suas histórias mostram que, apesar de momentos de indignação, eles permaneceram fiéis ao senhor e não foram castigados. Mesmo diante de um discurso apressado, feito sem pensar, mas carregado de muita verdade: "Eu tinha dito, 'Estou muito aflito'". Sua aflição o levou a falar erradamente: ele disse: "Ninguém merece confiança", ou seja, "Todos os homens são mentirosos".
Encontramos aqui alguma verdade, mas não era a
verdade toda, pois ele falou "em pânico", sem a devida
reflexão. Falou sob a influência da ira, sob a influência da aflição,
provavelmente influenciado pela infidelidade de outros. Isso o levou a cometer
o erro de ser abrangente demais, severo demais, desconfiado demais. Entretanto,
o erro do justo sempre o conduz de volta ao lado certo, tanto que ele demonstrou
fé em Deus: ‘Então clamei pelo nome do Senhor: "Livra-me, Senhor!"’
(Salmos 116:4). Pois com certeza em seus corações eles confessavam
dizendo: "Eu cri", tanto que após refletirem, em seus
corações eles disseram: “Eu cri, ainda que tenha dito...”. “... Certo é
que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não
poderia saber” (Jó 42:3); “Digo a mim mesmo: A minha porção é o
Senhor; portanto, nele porei a minha esperança” (Lamentações 3:24).
Tanto o salmista quanto Jó e
Jeremias só se expressaram assim por crerem nas misericórdias de Deus! Com fé
tal que afirmaram: “Cri, por isso falei. Estive muito aflito”; em
momento algum houve murmuração da parte deles, todavia um lamento onde
expressavam a sua dor diante de tudo que estavam passando. Na verdade, quando
eles se sentiram totalmente vencidos pelas circunstâncias, voltaram seus
olhares para Deus e clamaram gritando pelo Senhor, salva-me! Pois apesar do
lamento, em seus corações havia a certeza de que “O Senhor protege os
simples; quando eu já estava sem forças, ele me salvou” (Salmos 116:6).
Agora sem a má influência da ira ou da aflição, mas sob o agir do Espírito são finalmente
curados, o questionamento muda para: “Como posso retribuir ao Senhor toda
a sua bondade para comigo?” (Salmos 116:12).
Portanto não se martirize
por ter fraquejado em determinado momento e falado do que não entendia, ‘Pois
assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo:
"Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde
de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao
coração do contrito”’ (Isaías 57:15). E jamais se esqueça de que “O
meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração
e a minha herança para sempre”. (Salmos 73:26).
Com palavras doces em amor;
Ou talvez algumas almas tristes alcançar,
Com a mensagem do Senhor!” (Hino 417 C.C.).
Pr. José de Arimatéa Nascimento
Servo de Cristo Jesus
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