“Fira-me o justo com amor leal e me repreenda, mas não perfume a minha cabeça o óleo do ímpio” (Salmos 141:5).
Certamente este é um dos pedidos mais estranhos que alguém pode fazer “Fira-me o justo com amor leal e me repreenda”. Creio que ninguém gosta realmente de ser repreendido e muito menos de ser ferido; principalmente nos dias de hoje em que as pessoas e a própria igreja são avessas à disciplina. Infelizmente com esta atitude ela deixa de exalar o perfume de Cristo: “Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem” (2ª Coríntios 2:15), para trazer sobre a cabeça o mal cheiro da morte, quando deveria dizer: “não perfume a minha cabeça o óleo do ímpio”.
Sobre o justo não pode ser
despejado senão o “óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce pela
barba, a barba de Arão, até a gola das suas vestes” (Salmos 133:2);
visto que “Tu me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo
transbordar o meu cálice” (Salmos 23:5). Portanto para o justo é uma
verdadeira desonra partilhar do “óleo do ímpio”. A repulsa de tal
“honra” vinda das mãos dos ímpios é uma prova inequívoca de um
compromisso de fidelidade e santidade, da sua vontade de resistir às perfumadas
tentações do mal: “Não permitas que o meu coração se volte para o mal, nem
que eu me envolva em práticas perversas com os malfeitores. Que eu nunca
participe dos seus banquetes!” (Salmos 141:4). Infelizmente tenho visto
muitos homens de Deus, curvando as suas cabeças mediante as honrarias dos
ímpios, a fim de “serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo
que já receberam o seu galardão” (Mateus 6:2). Entretanto a “verdade
que liberta”, por vezes não é bem aceita nem mesmo entre aqueles que
por ela foram libertos, tanto que o apóstolo Paulo declara: “Tornei-me
inimigo de vocês por lhes dizer a verdade? Os que fazem tanto esforço para
agradá-los, não agem bem, mas querem isolá-los a fim de que vocês também mostrem
zelo por eles” (Gálatas 4:16,17).
Para não cair nesta
armadilha, Davi demonstra disposição para receber a repreensão do justo. Ciente
de que “É melhor ouvir a repreensão de um sábio do que a canção dos
tolos” (Eclesiastes 7:5). Assim sendo ele recebe a repreensão como um
ato de amor: “Melhor é a repreensão feita abertamente do que o amor
oculto” (Provérbios 27:5). Isso está tão claro para ele, como a luz do meio-dia,
tanto que em outra ocasião o salmista declara: “Foi bom para mim ter sido
castigado, para que aprendesse os teus decretos” (Salmos 119:71), pois “Contra
ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua
sentença e tens razão em condenar-me” (Salmos 51:4). Estas são palavras
que dificilmente se ouvirá saindo dos lábios de alguém que não tem entendimento e maturidade espiritual, como podemos ver “A repreensão faz marca mais
profunda no homem de entendimento do que cem açoites no tolo” (Provérbios
17:10).
Outra prova de maturidade
espiritual é comprovada quando lemos “Fira-me o justo com amor leal”,
como dizia Marcos Alexandre, meu professor de Novo Testamento, “toda
verdade dita sem amor é pecado”. Portanto o salmista coloca duas
condições para receber o ferimento, que ela seja feito por um “justo”
e com “amor leal”, pois “Quem fere por amor mostra
lealdade, mas o inimigo multiplica beijos” (Provérbios 27:6), lembre-se
que foi com um beijo que Judas traiu nosso Senhor Jesus (ver Lucas 22:47,48).
Lembre-se também que foi
depois de ser ferido por Deus, portanto de forma amorosa e leal, que Jacó teve
a sua vida transformada: “Quando o homem viu que não poderia dominá-lo,
tocou na articulação da coxa de Jacó, de forma que lhe deslocou a coxa,
enquanto lutavam” (Gênesis 32:25), é interessante notar que Jacó entrou
na luta com Deus saudável e saiu deficiente “mancando por causa da coxa”
(Gênesis 32:31), mas feliz com o favor de Deus. Paulo foi ferido nos
olhos, ficou cego, para só então enxergar o Messias: “Saulo levantou-se
do chão e, abrindo os olhos, não conseguia ver nada. E eles o levaram pela mão
até Damasco. Por três dias ele esteve cego, não comeu nem bebeu” (Atos
9:8,9).
Por mais cruel que possa
parecer, estes ferimentos foram feitos por causa do grande amor leal de Deus: “Se
o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder
uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão
direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu
corpo do que ir todo ele para o inferno" (Mateus 5:29,30). Creio
que tanto Jacó quanto Paulo se regozijaram diante da repreensão Divina, Jacó
tornou-se pai de uma grande nação, o apóstolo Paulo um mensageiro da verdade.
Com palavras doces em amor;
Ou talvez algumas almas tristes alcançar,
Com a mensagem do Senhor!” (Hino 417 C.C.).
Pr. José de Arimatéa Nascimento
Servo de Cristo Jesus
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